Cosmovisão - Aula 4 - O Coração Como Sede Cosmovisional


“Aula 4 – O Coração Como Centro da Vida Cosmovisional”

Introdução
Os valores que compõem nossa vida cosmovisional são nos ofertados ao longo da vida e os apreendemos de forma mais ou menos consciente. Estes valores que constroem nossos sistemas de crenças existenciais guiam nossas preferências e escolhas durante toda a existência.
Nesta aula, veremos que estes sistemas de crenças controladoras da nossa existência, nossa cosmovisão, estão arraigados em nosso ser mais interior, nosso coração.
Nosso primeiro passo é o de definir a ideia de coração e em seguida considerar como este coração é o centro de comando da nossa vida. Em seguida buscaremos refletir sobre a ideia de que o coração é alimentado para a construção das ideias raiz que nos dão o que chamaremos de “motivos básicos existenciais”, aproveitando parte da terminologia de Herman Dooyeweerd.
O que desejamos ao final desta aula é o estabelecimento de uma percepção clara de que somos movidos pelo nosso coração e que devemos guardar o coração para construir motivos básicos existenciais que honrem o Criador.

O que é o Coração?
Um dos conceitos primordiais da Escritura, quando trata da relação do homem com o Criador é o conceito de “coração”. A Escritura afirma que o coração é central neste relacionamento e que nele é que se definem verdadeiramente se haveremos ou não de amar a Deus.

O coração é a sede da vida humana
Há uma ideia comum de que o coração é a sede dos sentimentos humanos. Este modo de ver o coração, tende a fazer um contraste entre o coração e o cérebro, como se este último fosse a sede de todas as escolhas racionais e o coração a sede das reações emocionais humanas. Mas esta não é a visão bíblica.
Segundo as Escrituras, o coração humano não é o órgão que está localizado na caixa toráxica, cuja função é bombear o sangue para todo o corpo em movimentos sístole e diástole. Nas Escrituras o conceito de coração é mais profundo e complexo, pois se trata da sede de construção dos valores que movem o homem.
Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o coração, porque dele procedem as fontes da vida (Pv 4.23).
O coração é a sede de todo o movimento existencial na medida em que do coração é que os impulsos e crenças que fundamentam nossas escolhas e preferenciais existenciais. O coração é o centro de comando da nossa vida.

O coração é a sede dos pensamentos
Nas Escrituras o conceito de coração é mais abrangente que apenas ser a sede das emoções humanas. Nos textos bíblicos, o coração é também um lugar de racionalidade e pensamentos.
Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração (Hb 4.12). 
Pode se observar que o coração é um lugar em que reside pensamentos e propósitos, que são ambas atitudes cognitivas e não somente emocionais. Ele aqui é descrito como um elemento de profundidade da existência humana, como algo considerado quase impenetrável, senão pelo poder perscrutador da Palavra de Deus.
Guarda-te não haja pensamento vil no teu coração, nem digas: Está próximo o sétimo ano, o ano da remissão, de sorte que os teus olhos sejam malignos para com teu irmão pobre, e não lhe dês nada, e ele clame contra ti ao SENHOR, e haja em ti pecado (Dt 15.9).
Nenhum de vós pense mal no seu coração contra o seu próximo, nem ame o juramento falso, porque a todas estas coisas eu aborreço, diz o SENHOR (Zc 8.27).
Como se pode notar nestes textos, as Escrituras apontam o coração como uma sede de pensamentos e intenções cognitivas. Então, resumir o coração como sendo uma sede apenas de emoções é uma visão incompleta.

O Coração é o centro religioso do homem
As Escrituras também consideram o coração como o lugar central do desenvolvimento da religiosidade humana. A religiosidade aqui não deve ser confundida como a adesão à um credo religioso, mas o desenvolvimento de um amor controlador do ser humano, a religião aqui é o amor último que guia o homem em suas preferências e escolhas.
O amor último que controla o homem é o fundamento religioso de suas escolhas. Em geral, todas as percepções da vida e os valores que dominam nossas preferências são valores e percepções religiosas, isto é, amores últimos que controlam nossa existência.
Nas Escrituras o homem ama a Deus de todo o coração e também o repulsa no coração. Isto é, as decisões últimas de amar ou repulsar a Deus são controladas pelo que está no coração homem.
O SENHOR, teu Deus, circuncidará o teu coração e o coração de tua descendência, para amares o SENHOR, teu Deus, de todo o coração e de toda a tua alma, para que vivas (Dt 30.6). Feliz o homem constante no temor de Deus; mas o que endurece o coração cairá no mal (Pv 28.14).
Este impulso de amor ou repulsivo é um impulso religioso, isto é, é um amor último controlador. Ele pode ser dedicado a amar a Deus acima de todas as coisas ou a estabelecer um outro amor que repulsa o amor de Deus.

Cosmovisão Como um Valor do Coração
A cosmovisão como um sistema de crenças que dão valores existenciais e controlam nossas preferencias e escolhas tem como lugar de seu refúgio o coração do homem. Na verdade, o que devemos afirmar aqui é que a cosmovisão é uma construção erigida no coração humano pelo processo de assimilação existencial, como vimos na semana passada.

A Estrutura de Assimilação do Coração.
Para nossa aula, vamos considerar que o coração é uma caixa de assimilação, onde são guardadas nossas crenças existenciais. Ele pode ser alimentado e ter seus conteúdos interiores alterados em certa medida, mas também esconde valores e conteúdos que não conseguimos acessar devido à profundidade e sua inviolabilidade.
Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá? Eu, o SENHOR, esquadrinho o coração, eu provo os pensamentos; e isto para dar a cada um segundo o seu proceder, segundo o fruto das suas ações (Jr 17.9-10).
Existem, portanto, espaços no coração que não podem ser violados nem pelo próprio ser humano, lugares onde somente Deus tem o poder penetrador. Entretanto, há outros espaços do coração que conseguimos e podemos chegar e trabalhar, a ponto de podermos reter e ou tirar coisas de lá.
Guardo no coração a tua palavra para não pecar contra ti (Sl 119.11).
Portanto, embora haja espaços de localização profunda e inviolável no coração humano, há outros que são acessíveis e podem ser trabalhados. Nos espaços de localização profunda e inviolável, a assimilação se dá pelo arraigamento de ideias em condição não consciente e por fatos criacionais arraigados por Deus e no ponto do coração que é acessível pelos movimentos naturais de assimilação como educação, vida social, familiar, cultural etc.

DESENHO ESQUEMÁTICO DO CORAÇÃO


Estes níveis de compreensão e assimilação de valores existenciais ocorrem nesta duas principais camadas do coração, a consciente e a inconsciente. Valores que são construídos pela assimilação durante o processo existencial ou valores impostos criacionalmente, compõem nosso conjunto de crenças existenciais e juntos promovem nossa cosmovisão.
Os valores mais arraigados, isto é, mais aprofundados em nosso coração tendem a dominar o modo de assimilação dos níveis anteriores e promover o seu uso para escolhas e preferencias.

Conclusão
Concluímos nossa aula de hoje com uma ideia de que no coração é que formamos nossa mais profunda realidade cosmovisional. Ele, o coração, é o centro pulsante da nossa vida e devemos ter o cuidado de aprofundar nele todo o conhecimento bom que nos aproxime do Criador.
Por outro lado, devemos também ter com clareza que fatores não controlados podem ter afetado o nosso coração e inclinado nossos pensamentos, tendo formado em nós uma cosmovisão apóstata, desviada do Criador.
Esta ação de percepção nos ajudará a mover nossos pensamentos para saber guardar, isto é arraigar em nós valores que nos conduzam à vida e comunhão com o Criador que a é a verdade sobre o que é a realidade.


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