Confissão de Fé de Westminster - Aula 6 - Criação e Providência

Aula 06
A Criação e da Providência


Introdução
Um dos temas importantes da CFW é a relação do homem com a realidade visível. Claro que este ponto é definido em termos teológicos, entretanto, os conciliares de Westminster tinham clara noção do significaria em termos filosóficos e sociais o estabelecimento destes parâmetros.
Os capítulos que versam sobre estes princípios teológicos da relação do homem com a criação e a vida cotidiana são os Capítulos IV e V, respectivamente “Da Criação” e da “Providência”.
Estes capítulos decorrem da ideia central do Capítulo III, isto é, que Deus, livre e soberanamente determina, por meio de Decretos, tudo o que existe e o funcionamento biossocial perfeito do mundo, bem como da sua realização histórica. Desta forma, os teólogos de Westminster pensam que a realidade criada, segundo a vontade livre e soberana de Deus deve ser desfrutada de forma sábia e proposital pelo homem.

Desfrute Moral da Criação
Um dos pontos de partida do pensamento sobre a existência de todas as coisas, estabelece a VONTADE DE DEUS como o ponto de partida da ordem cósmica: 
Ao princípio aprovou a Deus o Pai, o Filho e o Espírito Santo, para manifestação da glória do seu eterno poder, sabedoria e bondade, criar ou fazer do nada, no espaço de seis dias, e tudo muito  bom, o mundo e tudo o que nele há, quer as coisas visíveis quer as invisíveis (CFW, CapIV-I).
A vontade soberana de Deus é o conceito de fundo da Obra da Criação, sendo ela proposital no sentido de fazer conhecido o próprio Criador, por meio da exposição visível e a percepção mental por meio do conhecimento, dos seus atributos. Todas as coisas existem para manifestar a glória do poder, da sabedoria e da bondade de Deus, quer aquelas que concretamente podem ser vistas, como aquelas que existem sem a concretude material, chamadas aqui de invisíveis.
No segundo parágrafo do capitulo IV, os teólogos da CFW voltam o seu olhar para o homem em destaque na obra da Criação e focaliza sua criação como ser racional, dotado de inteligência:
Depois de haver feito as outras criaturas, Deus criou o homem, macho e fêmea, com as almas racionais e imortais, e dotou-os de inteligência, retidão e perfeita santidade, segundo a sua própria imagem, tendo a lei de Deus escrita em seus corações e o poder de cumpri-la, mas com a possibilidade de transgredi-la, sendo deixados à liberdade de sua própria vontade, que era mutável. Além dessa escrita em seus corações, receberam o preceito de não comerem da árvore da ciência do bem e do mal, enquanto obedeceram a este preceito, foram felizes em comunhão com Deus e tiveram domínio sobre as criaturas (CFW, Cap.IV-II).
Um aspecto importante deste parágrafo focado na criação do homem é que o conceito de humanidade é tanto biológico, como moral. O homem aqui é descrito como um ser capaz de pensar e de avaliar suas ações, sendo dotado de percepção moral da realidade e implicado em uma prova cabal de obediência à lei de Deus que intuitivamente carregava em seu coração.
O texto diz que a felicidade do homem está unida à sua comunhão com Deus e esta é um exercício moral da vontade, que está sujeita à obedecer ou não a Deus. Inicialmente, Deus lhe ofereceu todas as possibilidades e recursos morais e intelectuais para discernir a realidade e se relacionar com a Criação de tal forma que tivesse uma percepção clara de Deus e seus atributos, por meio do funcionamento adequado da realidade, pelo exercício de um desfrute moral da vida em obediência a Deus.

A Responsabilidade Humana e Cuidado Soberano de Deus – Uma Relação de Adoração

Já o quinto capítulo da CFW, que trata da Obra da Providência, nos dá a compreender de que forma o sustento soberano de todas as coisas, dão continuidade à manifestação proposital da glória do poder, sabedoria e bondade de Deus, além de outros atributos relacionados.
Pela mui sábia e santa providência, segundo a sua infalível presciência e o livre e imutável conselho de sua própria vontade, Deus, o grande Criador de todas as coisas, para o louvor da glória de sua sabedoria, poder, justiça, bondade e misericórdia, sustenta, dirige, dispõe e governa todas as criaturas, todas as ações delas e todas as coisas, desde a maior até a menor (CFW, Cap.V-I).
Aqui você pode notar uma diferença com o abordado no capítulo anterior. Lá, a Criação é fruto da vontade soberana e é realizada com o propósito de revelar e manifestar a glória do seu poder, sabedoria e bondade, aqui, no entanto, a Criação é fruto da vontade soberana de Deus e o governo dele tem como propósito produzir uma reação nas suas criaturas racionais: para o louvor da glória da sua sabedoria, poder... 
Neste capítulo também se assegura que o desenvolvimento histórico da realidade é fruto da vontade de Deus, tanto quando a sua natureza bio-quimo-física. Ou seja, não somente as coisas são criadas por Deus, mas a história das coisas também é fruto da vontade soberana de Deus e do seu poder. 
Porto que, em relação à presciência e ao decreto de Deus, que é a causa primária, todas as coisas acontecem imutável e infalivelmente, contudo, pela mesma providência, deus ordena que elas sucedam, necessária, livre ou contingentemente, conforme a natureza das causas secundárias (CFW, Cap.V-II). 
Desta forma, pode se notar que as coisas foram criadas e planejadas com uma natureza funcional de tal forma determinada que existam e cumpram os propósitos eternos de Deus de revelar e fazer conhecida a glória do seu poder, sabedoria, bondade etc. A existência histórica das coisas, servem ao mesmo propósito doxológico que a sua existência natural.
Uma observação é que Deus é capaz de, mesmo tendo estabelecido um funcionamento para as coisas, fazer interferências soberanas sobre a sua criação, a ponto de muda-las, inclusive, alterar o seu estado criacional natural e dar outras conformações de funcionamento, como o que acontece nos milagres, quando Deus subverte a ordem criada e a altera com o mesmo propósito de revelar-se poderoso a todos nós.
Na sua providência ordinária, Deus emprega meios, todavia, ele é livre para operar sem eles, sobre eles, ou contra eles, segundo o seu beneplácito (CFW, Cap.V-III).

A Liberdade do Homem Para o Pecado e a Revelação Gloriosa Salvação

Entre os temas mais controversos das Sagradas Escrituras está a origem da maldade humana e a autoria final do pecado. Este ponto é tratado de forma bastante segura na CFW. Na verdade, no capítulo que tratou dos decretos este já foi um tema abordado, especialmente no parágrafo 8, quando tratou da predestinação.  
A doutrina deste alto mistério de predestinação deve ser tratada com especial prudência e cuidado, a fim de que os homens, atendendo à vontade revelada em sua Palavra e prestando obediência a ela, possam, pela evidência de sua vocação eficaz, certificar-se de sua eterna eleição (CFW, III, 8a). 

Conclusão
O resultado pretendido pelos teólogos de Westminster é o que o crente confie no amor eterno de Deus e busque, por meio de um relacionamento de fé experimentar e certificar-se de sua eleição eterna. Esta percepção deveria causar admiração, amor, reverência a Deus, bem como atitude de humildade, obediência e conforto no coração dos eleitos.
Assim todos os que sinceramente obedecem ao Evangelho, esta doutrina fornece motivo de louvor, reverência, e admiração a Deus, bem como de humildade, diligencia e abundante consolação (CFW III, 8b). 

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