Aula 1 - Introdução ao Estudo dos Dons Espirituais e Redenção

Aula 01 
Dons Espirituais – A Vida de Cristo Frutificando Através da Igreja – Operando a Redenção do Homem

Introdução
Os organismos vivos desenvolvem-se e alcançam a condição de por em uso todas as potencialidades da sua natureza. Todos esperam que um leão se desenvolva e ser torne o grande carnívoro predador que sua natureza propõe que seja. Doutra sorte, todos aguardam que os filhotes de castor, cresçam e construam seus diques, tal qual, toda a comunidade de castores adultos anteriores a ele. Ninguém espera que os porcos selvagens mudem o seu comportamento, ou que as formigas deixem de fazer seus formigueiros, as abelhas parem de produzir mel etc. 
Os seres humanos não diferem dos demais seres vivos nesta expectativa de desenvolvimento de potencialidades. Contudo, evidentemente as potencialidades que o ser humano precisa desenvolver são tão variadas, que, em geral, podemos dizer que o homem é um ser indefinido em termos de sua natureza a ser desenvolvida para sua vida adulta. Alguns se tornam esportistas grandemente capazes, outros, aprofundam sua experiência de desenvolvimento de técnicas de produção; há os que se tornam estudantes fabulosos; comunicadores; artistas; mecânicos etc. 
Mas, será que existe alguma potencialidade que seja distintiva de todos os seres humanos? Algo que não os divida em grupos, mas que os reúna em uma condição de igualdade? 

A Tarefa Humana Original
Quando falamos em potencialidades dos seres humanos, evidentemente nos referimos a uma enorme lista de capacitações que os homens são capazes de desenvolver nas mais diversas áreas da realidade existencial do homem. Capacidades motoras, cognitivas, afetivas, criativas etc. Tudo isto não são finalidades existenciais, mas ferramentas para que o ser humano cumpra um propósito natural existencial. 
Segundo as Escrituras, os seres humanos foram criados à imagem e semelhança de Deus e receberam a ordenança de serem os espalhadores da bênção da harmonia criacional. 
Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou, homem e mulher os criou. E Deus os abençoou e lhes disse: sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a, dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra (Gn 1.28-29).
Nesta tarefa de cuidar da Criação, o homem recebeu uma incumbência ainda mais especial, que é a de cuidar do próprio “ser humano”. Em outras palavras, devemos considerar que o ser humano foi criado para ser um cuidador da obra criacional natural e ser um promotor da vida humana para que esta exista no mundo de Deus de uma maneira plena. 


A plenitude da humanidade
A plenitude de humanidade é um estado de realidade madura que promove as potencialidades humanas com uma finalidade, o bem-estar da própria comunidade humana. Este estado de bem-estar da comunidade humana é o ápice do “shalom criacional’, que é o mundo perfeito onde todos vivenciam e experimentam de forma harmônica a realidade em uma perspectiva teorreferente. 
Em outras palavras, o ser humano existe para promover a dignidade da humanidade, levando-a, como um coletivo criado por Deus, a cumprir o seu papel existencial de glorificar a Deus na sua capacidade de amar ao próximo.
A Queda é a perda da capacidade de atingir o propósito original
Evidentemente, a condição da “queda” implicou em uma mudança da natureza humana e um desvio funcional se instalou. O ser humano perdeu sua identificação com o shalom criacional e desviou-se no seu propósito original. 
Deixando de funcionar segundo o seu propósito primordial, o ser humano, agora, não se impulsiona mais para o alvo existencial de glorificar a Deus. Sua busca se desvia e o resultado natural é o oposto, ou seja, ele produz um ambiente vivencial insalubre para a humanidade. 
Diz o insensato no seu coração: Não há Deus. Corrompem-se e praticam iniquidade; já não há quem faça o bem. Do céu, olha Deus para os filhos dos homens, para ver se há quem entenda, se há quem busque a Deus. Todos se extraviaram e juntamente se corromperam, não há quem faça o bem, não há nem sequer um (Sl 53.1-3).
Isto facilmente é verificado no resultado pós-queda do desenvolvimento social insalubre da humanidade antes do dilúvio, na construção da Torre de Babel, no surgimento das idolatrias, da escravidão, da inimizade dos povos etc. 
Estas mazelas não são apenas resultados do juízo de Deus contra o pecado, embora não devamos desconsiderar esta realidade, mas também são os resultados naturais da construção humana do espalhar não mais do shalom criacional, mas do egorreferente propósito do coração humano.
Viu o Senhor, que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração (Bn 6.5). 

Redenção como restauração do propósito original da humanidade 
A obra da Redenção é, por fim, uma restauração da humanidade. Essa restauração envolve a retomada do propósito original e a busca de um modo de vida que olha para o próximo com a finalidade de leva-lo a viver para a glória de Deus, o que implica em uma experiência contínua da teorreferência da realidade. 
A figura central desta restauração da humanidade é Jesus Cristo – homem. A obra de Cristo não é a de somente fazer a expiação do pecado humano, mas a de trazer o homem da morte para a vida e restaurar-lhe a teorreferencia, conduzindo os filhos de Deus a um padrão de humanidade que busca a glória do Pai. 
O ladrão vem somente para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância(Jo 10.10).
Além de ser a figura central da obra redentiva, Jesus é também o protótipo perfeito de homem em sua plena humanidade. Ele é a primícias de todos os que serão renovados em recolocados na Nova Terra para estabelecer o reino de justiça eterna e perfeito shalom. 
Até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo (Ef 4.13).
Porque, assim como, em Adão, todos morrem, assim também todos serão vivificados em Cristo. Cada um, porém, por sua própria ordem: Cristo, as primícias; depois, os que são de Cristo na sua vinda (1Co 15.22-23).
Desta forma, o projeto de humanidade teorreferente e ambiente shalômico é reconstruído a partir daqueles que vivem a vida de Cristo neste mundo. O processo redencional não é somente um plano de restauração futura, mas um gradativo acontecimento que tem início no novo nascimento do crente e no processo de santificação que se opera na sua vida. 

A progressividade da Obra da Redenção
Há vários aspectos e pontos da Obra da Redenção se operam objetivamente e diretamente, sem a necessidade de que os homens se envolvam pessoalmente nela. Um bom exemplo é a justificação objetiva e a expiação dos pecados, pois estes eventos redencionais ocorrem na dinâmica das pessoas da Trindade e na sua economia exclusiva. 
Outros aspectos estão ligados diretamente à restauração do homem em sua condição de plenitude de humanidade. O pecado, rouba, destrói e conduz o homem para uma condição de morte, isto é, um modelo de vida sem Deus. A Redenção resgata este homem deste ambiente de completa escuridão e o transporta para o Reino do Filho do amor de Deus. 
Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados (Cl 1.13-14). 
Este novo estado de vida a que somos transportados, debaixo da condição da luz, abre diante de todos nós uma possibilidade de restauração da nossa plena humanidade e a recuperação da tarefa criacional original em nosso viver diário. 
Ele vos deu vida, estando vós mortos em vossos delitos e peados (...). Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obra, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas (Ef 2.1 e 10).
Esse novo estado vivencial nos faz novamente responsáveis pelo espalhamento da harmonia shalômica do Reino de Cristo e proporcionar aos homens com os quais vivemos as condições de vida abundante e teorreferente. 
Fazei tudo sem murmuração nem contendas; para que vos torneis irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual resplandeceis como luzeiros no mundo (Fp 2.14-15). 
Este papel iluminador é o modo como os filhos de Deus manifestam a vida de Cristo neste mundo, por meio de sua plena adaptação ao novo modelo de Reino, baseado na Lei do Amor de Deus. Esta adaptação da igreja ao seu novo papel iluminador, uma vez que ela foi trazida das trevas para a luz é um processo de amadurecimento da fé.
Assim, pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na minha presença, porém, muito mais agora, na minha ausência, desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor (Fp 2.12). 
A este processo chamamos de santificação, que implica em uma gradativa adaptação do pecador novo nascido à sua nova condição como vivo diante de Deus. Trata-se, portanto, de um processo de luta contra a velha natureza e o fortalecimento do novo homem. 
No sentido de que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano e vos renoveis no espirito do vosso entendimento e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão, procedentes da verdade (Ef 4.22-24). 

O Espirito Santo Como Agente Trinitário da Aplicação da Obra Redentiva
Somente uma visão bíblica da pessoalidade do Espírito Santo nos proporcionará um relacionamento adequado com Deus. Afinal, o Espírito Santo está no começo, meio e fim da nossa nova em Cristo Jesus. 
Sem a obra do Espírito Santo e o seu agir em nosso coração, nosso relacionamento com Deus é impossível, afinal somente podemos viver o relacionamento filial com Deus, por meio do Espírito que habita em nós (Rm 8.14-16). 

O Espírito Santo Como Fonte da Nova Vida em Cristo
Muitas são as razões para que nos importemos em ter um relacionamento pessoal com o Espírito Santo. No entanto, a ênfase bíblica é que este relacionamento deve ser profundo e abundante porque o Espírito Santo é o condutor da nova vida que temos em Cristo.
O Espírito Santo é responsável pelo surgimento de uma nova vida em nós (Tt 3.4-6; Jo 3.5-6) e sem esta obra do Espírito não existe nenhum relacionamento filial entre o homem e Deus (Rm 8.14-16). Portanto, dependemos da obra pessoal do Espírito Santo e de sua vontade regeneradora para que tenhamos vida em Cristo Jesus (1Co 12.3; 11).

B – O Espírito Santo Como Potencializador da Nova Vida em Cristo
Nenhum ser humano vivo permanece exatamente como era no dia do seu nascimento. Pelo contrário, imediatamente após o seu nascimento já apresenta os sinais de um desenvolvimento natural, ou seja, ela passa por processos de amadurecimento biológico, intelectual, emocional etc.
Da mesma forma, nossa nova vida em Cristo não pode se limitar apenas ao surgimento do novo homem, mas carece de um desenvolvimento (1Co 3.1-2). Este desenvolvimento é potencializado pelo Espirito Santo, quando passa a suprir nossa mente com uma nova percepção sobre Deus e a vida (Jo 16.13).
Paulo compreendeu que a presença do Espírito Santo na vida do crente não é estática, mas dinâmica, isto é, ele não apenas cumpre a função de nos dar vida, mas nos ajuda a desenvolvê-la e amadurecê-la para que nos tornemos mais santos e habilitados para agradar a Deus (Rm 8.5-11).

C – O Espírito Santo Como Garantidor da Nova Vida em Cristo
Um outro aspecto que aponta para a importância da nossa relação pessoal com o Espírito Santo é a obra que ele faz como selo ou garantidor da nossa nova vida em Cristo (Ef 1.13-14). 
Paulo indica o Espírito como o “penhor” que garante que pertencemos a Deus até o fim. Assim como no mundo antigo o selo garantia a autenticidade de uma carta e estabelecia sua inviolabilidade, da mesma forma, a presença do Espírito Santo em nós é que garante que pertencemos a Deus e nos protege nesta condição (Ef 4.30).
Assim, o Espírito Santo é apresentado na Escritura como a fonte, o desenvolvimento e a garantia da nossa vida em Cristo Jesus (2Co 3.17-18).

Conclusão
Devemos considerar com muita atenção a necessidade de nos tornarmos conscientes do alvo redentivo da obra divina em nós e através de nós, dando mais atenção às operações que o Espírito Santo é enviado a executar em nós e através de nós. 
O sinal de maior maturidade na igreja será mostrado na sua submissão ao Espírito e na sua busca de enchimento dele e identidade nele. Afinal, a pessoa do Espirito Santo é aquela que mais diretamente lida com nosso coração, sendo o agente trinitário mais pessoalmente envolvido com nosso ser. 
Convido você a participar destas aulas com sede de vida no Espírito Santo. 

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